sábado, 1 de março de 2008

Ode ao baú*


Um dia o organismo incompleto sentiu saudade do ritmo coroado de batuque e dor.
Fruto embasbacado do êxtase fugitivo de arcanjos com a tez de azeviche.
Eram as comportas do céu que, incansavelmente, se abriram para exalar o perfume dos jasmins carregados em estandartes de restauração.
Junto a eles as gotas vadias de poesia caíram sobre o povo resgatando os cantos pioneiros que se mesclaram ao ronco libertino do tambor.
Evoé, o brado do poeta ressurgiu em meio ao mar de desencanto que inexoravelmente torturava a alma livre do samba.
Mil pandeiros reergueram-se com fervor, ritmando a sinfonia que naquele palco se instalava. O chamamento da vida, reclamando a arte. O chamamento da arte reclamando o brilho. O consentimento da sorte, acendendo a chama. A luta de arautos impulsionando o sonho.
Sonhos de alfaiates, cartolas , sargentos, candeias e outros tantos sonhados em pleno flamejar.
Chamas de frutos forjados no fogo doce da persistência e do suor, jorrando da lava que flui do peito de quem insiste em caminhar pela raiz.
Flui baú que teu segredo é impulsionar o grito dos sonhos quase cessados, mas nunca esquecidos, das flores que exalam perfumes de resgate e tradição.
Evoé, musicalidade brasileira.
Evoé, Samba do baú.
André Luis Santos
* Samba do Baú é um projeto cultural paulistano formado por jovens músicos que tem o intuito de resgatar o samba tradicional e de raiz dentro da cultura brasileira.

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